sexta-feira, 27 de julho de 2012

Desenhos da Mocidade Imperiana 2012






Abrindo o desfile, a comissão de frente invoca o espírito dos membros da Missão Artística Francesa. Vindos da recém dissolvida corte Napoleônica, os nobres mestres trazem em sua bagagem todo o conhecimento da escola de Belas Artes de Paris, de natureza neoclássica. Juntos representam a bandeira da França, fazendo referência à sua origem histórica e ideológica.


Personificando um sopro de inspiração, os guardiões do primeiro casal de mestre sala e porta bandeira emolduram o bailar do pavilhão da Mocidade. Seu traje remete ao figurino dos artistas da missão, de origem francesa. Nas mãos, a paleta do artista como estandarte. 



 
O primeiro  casal  vem representar o enlace entre a nobreza da corte portuguesa  a elite artística vinda da França. O mestre sala traja a casaca imperial da Casa Real Portuguesa; a porta bandeira ilustra a essência neoclássica da academia francesa.








O abre alas da Mocidade representa o ato de fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. À frente do carro, quatro musas trazem as principais linhas de trabalho da academia: a pintura, a gravura, a escultura e a  arquitetura. Em meio a paletas e pincéis, o ambiente neoclássico é representado pelos elementos arquitetônicos da estrutura da alegoria. No fundo do carro, uma reprodução do pórtico do primeiro prédio construído para abrigar a escola.



Na paleta de Jean Baptiste Debret o Rio de Janeiro imperial ganha novos contornos. Grande aquarelista, o pintor encarna a figura de cronista visual, registrando em sua obra o cotidiano da nova capital do império. O trabalho do negro escravo é fonte de inúmeros estudos. Aqui, a ala representa a presença dos negros no trabalho da capital. O trabalho do artista se tornou o retrato mais significativo do período.

O olhar de Debret registrou a grande diferença social que existia no império luso-brasileiro. Nessa ala, um cortejo inspirado em seus desenhos apresenta as funções de cada indivíduo dentro da estrutura econômica vigente.





 

Com maestria, Debret desenhava o desfile das damas e senhoras que passeavam pelas ruas do Rio de Janeiro. Seus belos vestidos exalavam a riqueza da corte carioca. Era a elite revelada pelos olhos do artista da academia.





 

Todas as faces da sociedade da época foram retratadas pelo gênio artístico de Debret: do trabalho escravo ao esplendor da corte, passando pelos festejos populares. Aqui o entrudo pontua a versatilidade dos pinceis do cronista. Entre bombas de água e limões de cheiro os cariocas festejavam o carnaval primitivo da época.

 
A segunda alegoria registra o cotidiano da nova capital do império português sob o olhar de Debret, principal cronista da Missão Artística. No primeiro plano o cais da Praça VX vê ancorar as embarcações aos pés do chafariz de Mestre Valentim. Negros desembarcam mercadorias. No meio da alegoria, o trabalho dos escravos: todas as composições cênicas interpretam instantes registrados pelo aquarelista, emoldurados por fontes de água, abundantes no Rio Imperial. Na parte final, a corte engalanada nos casarões.

Marcando a primeira geração de alunos da Missão, Manoel de Araújo Porto Alegre, que fora aluno de Debret,  pinta a “Sagração de D. Pedro II”. Nessa ala a fantasia reproduz a figura de imperador em sua coroação. Seguindo as normas técnicas da academia, Araújo ajuda a construir com sua obra a simbologia histórica do Império.

 Responsável por algumas das obras históricas mais importantes do Brasil, Vitor Meireles sagrou-se pintor da academia, um dos preferidos do império. Respeitado professor, é considerado um dos mais significativos representantes da pintura oficial brasileira. A ala retrata o quadro “Batalha dos Guararapes” – uma obra monumental, que mostra de forma gloriosa o heroísmo daquele combate.

 
Nossa rainha encarna a nobreza intrínseca à todas as musas clássicas; eterna fonte de inspiração de pintores, escultores e artistas em geral. Coberta pelo brilho magnânimo do ouro e dos cristais, ela inspira o som da orquestra da Mocidade!



 
A bateria rende homenagem a Pedro Américo, premiado pintor responsável por uma das obras mais ricas da primeira geração de alunos da academia. Os ritmistas vestem a casaca do exército brasileiro, presente do monumental quadro “A Batalha do Havaí”, considerado um dos maiores já realizados no mundo.

 
Sob o olhar de Pedro Américo, o orientalismo ganha expressão e desperta o interesse da academia. O olhar eurocêntrico da escola registra em suas telas sua interpretação da cultura vinda do mundo árabe, indiano e asiático. O tema representava um elemento exótico e fascinante aos artistas da academia. 

 
Renomado professor, Rodolfo Amoedo apresentava em suas telas o índio como herói de um novo simbolismo romântico, que buscava criar um imaginário mítico nacional. Paralelo ao romantismo da literatura, o indianismo se firma como uma importante corrente da pintura acadêmica do período.

 
A terceira alegoria da Mocidade faz referência aos grandes salões anuais da academia; cenário onde os artistas confrontavam seus trabalhos na disputa do chamado “Prêmio Viagem” que lhes conferia a oportunidade de estudarem temporadas em ateliers europeus. Como uma “enciclopédia de arte” em terceira dimensão a alegoria se abre em quatro nichos. Cada um desses nichos emoldura uma significativa obra do período. São elas: no primeiro plano “A primeira Missa do Brasil” de Vitor Meireles, à direita “A Carioca”, à esquerda “A Rabequista árabe”, ao fundo “A Noite e os Gênios do Estudo e do Amor”, esses três de Pedro Américo.


Georgina Moura Andrade de Albuquerque foi a primeira mulher a dirigir a academia. Mulher à frente do seu tempo,  trouxe de sua temporada de estudos na França ao lado de seu marido, o pintor Lucílio de Albuquerque, a influencia da luz da arte impressionista. Georgina é um símbolo desse período: de pinceladas vibrantes e iluminadas, a artista engrossa a fileira dos mestres que transformaram a rigidez dos procedimentos da academia. A fantasia ilustra a beleza das jovens moças sempre presentes em suas telas.


Natural do interior paulista, Almeida Junior leva para academia o universo de seu imaginário campestre, aproximando ainda mais a produção artística da época de uma linguagem nacionalista. Os temas rurais começam a transparecer a busca por uma identidade brasileira, convivendo com os tradicionais temas épicos, históricos e religiosos. A fantasia se remete à uma de suas obras mais significativas: “O Violeiro”.

 
A cada geração de artistas que se formava a academia se aproximava de uma nova paleta de cores banhada pela luz tropical. A exuberância da claridade brasileira faz muitos artistas repensarem o rigor formal das doutrinas dos manuais da academia. O meio começa a mudar a percepção dos artistas, que se abre para observar os encantos da natureza brasileira.

Em contato direto com a beleza natural do Brasil, a academia começa a absorver em sua paleta as cores do país. É a semente para construção de uma identidade mais próxima da realidade brasileira, através da contemplação de sua pujança. O sol brilhou nas tela dos pintores, inaugurando uma nova era na arte oficial.




 


O segundo casal de Mestre Sala e Porta Bandeira rende homenagem à dois importantes pintores: o professor alemão George Grimm e seu aluno brasileiro Antônio Parreiras. Grimm veio para o Brasil assumir a cadeira de pintura de paisagem na academia. Ao chegar aqui, se encantou com as belezas naturais do lugar. Em suas aulas levava os alunos para pintarem em contato direto com a natureza. Parreiras  destacou-se, sendo considerado o maior importante pintor de paisagem brasileiro. Essa parceria acabou por dar vida à “escola de pintura ao ar livre” – importante núcleo de estudos do gênero.

 O tripé marca uma importante passagem dentro da academia: “ao olhar para si, o caminho da ruptura”. Na busca pela natureza local como tema de sua pintura, George Grimm e Antônio Parreiras estabelecem o primeiro movimento concreto de valorização da identidade nacional dentro da escola oficial. Fundam a “escola ao ar livre” na cidade vizinha de Niterói, que buscava estudar a paisagem brasileira em contato direto, sem o rigor dos manuais da academia.

Abrindo a galeria dos artistas modernos, apresentamos Cícero Dias: artista pernambucano que teve sua passagem ainda jovem pela Escola de Belas Artes. Sua obra caracteriza-se pela temática primitivista, de colorido vívido, enaltecendo sua vivência com o nordeste brasileiro. Nossas mães baianas trazem estampadas em suas saias telas do genial pintor.

 
Considerado o maior gravador brasileiro, é responsável pela criação do atelier de gravura da então Escola Nacional de Belas Artes, onde lecionou. Sua obra tem a forte marca do desejo de retratar uma arte original brasileira. Suas xilogravuras percorreram o mundo levando nossa tradição cultural. Em preto e branco, pinceladas de vermelho explodem em alto contraste.   

 
Considerado um dos ícones da arte surrealista no Brasil, Ismael Nery mergulhou na alma humana e imprimiu em suas telas e ilustrações um mundo metafísico. Influenciado por grandes mestres, pintores e pensadores, seu trabalho fugiu das temáticas regionais, mostrando a pluralidade de linguagens que coexistiam no processo de criação da geração moderna da academia. 

 
Pancetti, de raízes italianas, trabalhava como funcionário da Marinha do Brasil pintando o interior de cabines em navios. Ao aproximar-se do Núcleo Bernardelli – grupo independente de pintura que atuava nas dependências da Escola de Belas Artes – entra no universo da academia, onde se consagra um dos maiores pintores de marinhas do período.

Cândido Portinari é considerado o maior pintor da arte brasileira. Sua obra alcançou projeção internacional. Natural do interior paulista, mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro para estudar na academia, onde criou uma linguagem única, fortemente marcada pelo imaginário brasileiro. Em mais de 5000 obras, Portinari construiu a imagem oficial do Brasil moderno que surgia. A ala das crianças trás a alegria das cores de Portinari, que imortalizou em suas pinturas a infância rural, as brincadeira inocentes de sua juventude. 


 Portinari é o grande representante da modernidade na academia, o maior ícone da arte
brasileira de todos os tempos. Pintor de projeção internacional, retratou o universo típico brasileiro e ajudou a construir nosso imaginário mítico. A quarta alegoria da Mocidade mostra o especial carinho de Portinari pelo mundo da criança: as brincadeiras, a alegria, o sentimento lúdico da infância. A pipa livre nos céus de Brodowski traduzia em cor as pinceladas iluminadas de Portinari.



 
No último setor da fazemos referência a relação entre a Escola de Belas Artes e o universo do carnaval. Na década de 70 o professor Fernando Pamplona começa a estreitar os laços entre o mundo acadêmico e o popular levando alunos dos cursos da faculdade e amigos para trabalharem nos barracões das escolas de samba. Esse gesto mudou para sempre o carnaval carioca e influenciou de forma decisiva todos os profissionais do carnaval até hoje. Esse intercâmbio possibilitou a transformação do desfile das escolas de samba no maior espetáculo áudio-visual do planeta! Na primeira ala do setor rendemos homenagem ao eterno salgueirense Pamplona, mestre maior do carnaval, homem visionário, com seu carnaval “Chico Rei”. 

 
Arlindo Rodrigues era cenógrafo e figurinista ; mesmo não tendo sido aluno da academia, foi levado para o carnaval por Pamplona e seguiu seus ensinamentos, fazendo parte de uma “idade de ouro” do desfile das escolas de samba. A ala 19 rememora um de seus grandes carnavais: o campeonato de 1981 pela Imperatriz “O teu cabelo não nega”, que homenageava o compositor Lamartine Babo. 

 
Conhecido por sua irreverência e originalidade, Fernando Pinto se tornou um dos nomes mais cultuados das décadas de 70 e 80. Mesmo não sendo aluno da academia, fez parte do grupo de profissionais que ajudou a construir a uma nova realidade para carnaval carioca, alçando o status de grande espetáculo. Nossa homenagem vem na lembrança do carnaval campeão de 1985 pela Mocidade Independente: “Ziriguidum 2001, o carnaval das estrelas”.

Aluna de Pamplona na academia, Maria Augusta foi evada por seu mestre ao universo do carnaval, onde iria construir uma carreira marcada por grandes enredos. Seu trabalho sempre teve uma empatia popular muito forte, lhe rendendo desfiles históricos. Nossa homenagem vem na forma de sua amada União da Ilha, no carnaval de 1978: “O Amanhã”.


 Formada em pintura pela academia, mais tarde veio a se tornar professora da cadeira de
cenografia e indumentária. Chegou ao mundo do carnaval através de Pamplona, onde iria fincar raízes profundas. Rosa se tornou a maior vencedora da era da Sapucaí. Aqui rendemos homenagem à duas comissões de frente históricas: “Catarina de Médicis na corte dos Tupinambôs e Tabajeres” ( 1994)  e “Sou da lira não posso negar” (1997), ambos na Imperatriz. Um tripé premia Rosa, a grande vencedora, com um troféu.

 
João Jorge Trinta começou sua carreira no Salgueiro, como aprendiz de Pamplona. Imortalizou sua obra na Beija-Flor, onde desenvolveu trabalhos inesquecíveis. O mais importante de todos retorna em nosso desfile: “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia” em 1989 na escola nilopolitana. Mendigos invadiram a Sapucaí e marcaram o nome do gênio João na história do carnaval.

Max Lopes começou sua carreira no carnaval como ajudante de Pamplona no Salgueiro na década de 70. Conhecido como o “mago das cores”,o carnavalesco de estilo barroco passou por grandes agremiações, mas é da Mangueira que vem a nossa homenagem: “Yes, nós temos Braguinha” – título de 1984. A Mocidade enaltece o grande artista, e diz “Yes, nós temos Max!”   

Assistente de Pamplona no Salgueiro, Renato começa sua trajetória em 1978. Nos anos 90, na Mocidade Independente, se afirmou como um dos nomes mais importantes da arte carnavalesca. De estilo arrojado e limpo, Renato ganha o apelido de carnavalesco “high-tech”. Nossa homenagem vem através do título da escola de Padre Miguel em 1991 – “Chuê-Chuá, as águas vão rolar”.  

 As cores do carnaval se misturam às cores da academia, unindo os dois universos. A destaque apresenta a última alegoria da escola, celebrando a união dos saberes.

     É chegada a hora de celebrar a união da arte popular e da academia: a Mocidade Imperiana presta reverência aos 196 anos da maior Escola de Belas Artes da América Latina. O artista se veste de sambista, e o sambista ilumina seus passos com as cores da arte. A Marquês de Sapucaí é a grande galeria do século XXI, e a nossa Mocidade transforma a João Jorge Trinta em tela virtual, para pintar essa história com as cores do carnaval.

 Nossa querida velha guarda, mestre do samba da Mocidade, se tornam mestre da academia e rende homenagem a todos os professores da gloriosa Escola de Belas Artes. Tão belo encontro! Eles trazem o questionamento final: transformamos o carnaval ou popularizamos a academia? Não importa! Viva a festa democrática e artística do carnaval!

4 comentários:

  1. Olá Jorge,
    Espero muito que você leia a minha mensagem!!
    Admiro muuuiiito o teu trabalho, os detalhes dos traços, nossa nunca vi nada igual na minha vida!! Sou estilista aqui no Sul e gostaria muito se possível do seu e-mail. Vou ficar esperando ok. robertarspel@hotmail.com
    Um Grande Abraço!!!

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  2. Olá Roberta!

    Aqui é o Jorge Silveira, desenhista de carnaval,
    Adorei seu comentário! Obrigado pelo carinho
    com meu trabalho. Fico muito feliz que tenha gostado.
    Fique à vontade para manter contato!

    Aguarde que em breve eu vou postar uma tonelada de coisas novas
    com todos os trabalhos que fiz para o carnaval 2013.

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  3. Boa tarde Jorge!
    Qual o seu e-mail?
    Para o próximo carnaval vamos fala da sustentabilidade E gostaria de ter um figurino desenhado por você.
    Estava pensado em uma fantasia de esquimó lembrando o estaremos glacial.
    Segue meu contato quality.safety@hotmail.com
    ATT
    Richard

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  4. Boa tarde Jorge!
    Qual o seu e-mail?
    Para o próximo carnaval vamos fala da sustentabilidade E gostaria de ter um figurino desenhado por você.
    Estava pensado em uma fantasia de esquimó lembrando o estaremos glacial.
    Segue meu contato quality.safety@hotmail.com
    ATT
    Richard

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